terça-feira, 2 de abril de 2013

“NÓS PARAMOS NO SÉCULO 19” - Entrevista com Ken Robinson, especialista em criatividade


       O texto a seguir foi extraído da revista Exame, edição 1032 de 02/04/13. Não trata de pedagogia Waldorf, porém tece importante crítica ao modelo escolar tradicional em questões que aproximam o ponto de vista do entrevistado com a prática pedagógica Waldorf. 





TEXTO DA REVISTA EXAME
Edição 1032/ Ano47/ nº6

ESPECIAL EDUCAÇÃO



“NÓS PARAMOS NO SÉCULO 19”


UM DOS MAIS RESPEITADOS ESPECIALISTAS EM CRIATIVIDADE DO MUNDO, KEN ROBINSON DEFENDE QUE O SISTEMA DE ENSINO TRADICIONAL TEM SE REINVENTAR.


Entre as celebridades e os pensadores que fizeram apresentações no TED, o famoso ciclo de palestras que disseminam ideias inovadoras em vídeos na internet, ninguém foi tão visto quanto o consultor de educação inglês KEN ROBINSON. Mais de 15 milhões de internautas já assistiram a Robinson falar sobre a necessidade de repensar o sistema de ensino atual, que, segundo ele está matando a criatividade dos alunos. Em recente visita a São Paulo, Robinson deu a seguinte entrevista a EXAME.


O que é preciso mudar no sistema tradicional de ensino?

A educação precisa passar por uma revolução. É importante que as pessoas tenham a dimensão do problema que enfrentamos. Os sistemas educacionais de massa foram criados no século 19, durante a revolução Industrial. Por isso, a principal característica desses sistemas foi a padronização. As crianças passaram a ser separadas por faixas etárias e cada disciplina ganhou um tempo fixo. Essa foi a forma mais eficiente de produzir alunos “em série”. Mas isso não funciona mais. 
Imagine uma empresa onde a cada 40 minutos um sinal toca, todos os funcionários são obrigados a parar o que estão fazendo e iniciar outra atividade. A empresa quebraria em um mês. Fazemos exatamente isso nas escolas.


Por que o modelo atual é mantido?

Os pais e as autoridades acham que, se um jovem estudar bastante, for para a universidade e conseguir um diploma, ele terá um emprego seguro para o resto da vida. O problema é que cada vez menos isso é verdade. 
Nos Estados Unidos há uma quantidade enorme de alunos que abandonam as escolas de ensino médio e as faculdades porque não percebem seu valor. Na china, os jovens entram nas universidades e se formam, mas, quando vão para o mercado de trabalho, não encontram os postos com que sonharam.


Então o senhor acha que é preciso acabar com a estrutura atual das escolas e universidades?

Para muitas pessoas, a estrutura atual é a única chance de escapar da ignorância. A educação em massa vai continuar existindo. O que estou dizendo é que a educação tradicional não tem despertado o interesse dos jovens. O modelo a que estamos acostumados não dá mais conta de formar os profissionais que estão sendo demandados pelo mercado. A criatividade é cada vez mais um diferencial. As crianças e os jovens têm interesses distintos e ritmos diferentes de aprendizagem, mas nós ainda estamos investindo em aulas que miram somente determinado perfil de aluno.


De que maneira o uso da tecnologia em aula vai permitir o desenvolvimento da criatividade dos alunos?

A tecnologia é um caminho e, com certeza, terá um grande impacto na vida das escolas. Quando Gutemberg inventou a imprensa, jamais imaginou que isso seria um facilitador da Reforma Protestante que viria a seguir por popularizar ideias contrárias a Igreja Católica. 
Hoje é difícil prever as consequências do uso do computador e da internet. Dito isso, é importante deixar claro que, quando falamos de criatividade, nem tudo gira em torno da tecnologia. Há escolas que optaram por deixar o aluno escolher as atividades que prefere fazer em um dos dias da semana. Não há nada de tecnológico nisso. É sempre bom lembrar. O crucial é a qualidade do professor. É o comportamento dele que faz a diferença.




Nenhum comentário:

Postar um comentário