O texto a seguir foi extraído da revista Exame, edição 1032 de 02/04/13. Não trata de pedagogia Waldorf, porém tece importante crítica ao modelo escolar tradicional em questões que aproximam o ponto de vista do entrevistado com a prática pedagógica Waldorf.
TEXTO DA REVISTA EXAME
Edição 1032/ Ano47/ nº6
ESPECIAL EDUCAÇÃO
“NÓS PARAMOS NO SÉCULO 19”
UM DOS MAIS
RESPEITADOS ESPECIALISTAS EM CRIATIVIDADE DO MUNDO, KEN ROBINSON DEFENDE QUE O SISTEMA DE ENSINO TRADICIONAL TEM SE
REINVENTAR.
Entre as celebridades
e os pensadores que fizeram apresentações no TED, o famoso ciclo de palestras
que disseminam ideias inovadoras em vídeos na internet, ninguém foi tão visto
quanto o consultor de educação inglês KEN ROBINSON. Mais de 15 milhões de internautas
já assistiram a Robinson falar sobre a necessidade de repensar o sistema de
ensino atual, que, segundo ele está matando a criatividade dos alunos. Em
recente visita a São Paulo, Robinson deu a seguinte entrevista a EXAME.
O que é preciso mudar
no sistema tradicional de ensino?
A educação precisa
passar por uma revolução. É importante que as pessoas tenham a dimensão do
problema que enfrentamos. Os sistemas educacionais de massa foram criados no
século 19, durante a revolução Industrial. Por isso, a principal característica
desses sistemas foi a padronização. As crianças passaram a ser separadas por
faixas etárias e cada disciplina ganhou um tempo fixo. Essa foi a forma mais
eficiente de produzir alunos “em série”. Mas isso não funciona mais.
Imagine uma empresa
onde a cada 40 minutos um sinal toca, todos os funcionários são obrigados a
parar o que estão fazendo e iniciar outra atividade. A empresa quebraria em um
mês. Fazemos exatamente isso nas escolas.
Por que o modelo
atual é mantido?
Os pais e as
autoridades acham que, se um jovem estudar bastante, for para a universidade e
conseguir um diploma, ele terá um emprego seguro para o resto da vida. O
problema é que cada vez menos isso é verdade.
Nos Estados Unidos há
uma quantidade enorme de alunos que abandonam as escolas de ensino médio e as
faculdades porque não percebem seu valor. Na china, os jovens entram nas
universidades e se formam, mas, quando vão para o mercado de trabalho, não
encontram os postos com que sonharam.
Então o senhor acha que
é preciso acabar com a estrutura atual das escolas e universidades?
Para muitas pessoas,
a estrutura atual é a única chance de escapar da ignorância. A educação em
massa vai continuar existindo. O que estou dizendo é que a educação tradicional
não tem despertado o interesse dos jovens. O modelo a que estamos acostumados
não dá mais conta de formar os profissionais que estão sendo demandados pelo
mercado. A criatividade é cada vez mais um diferencial. As crianças e os jovens
têm interesses distintos e ritmos diferentes de aprendizagem, mas nós ainda
estamos investindo em aulas que miram somente determinado perfil de aluno.
De que maneira o uso
da tecnologia em aula vai permitir o desenvolvimento da criatividade dos
alunos?
A tecnologia é um
caminho e, com certeza, terá um grande impacto na vida das escolas. Quando
Gutemberg inventou a imprensa, jamais imaginou que isso seria um facilitador da
Reforma Protestante que viria a seguir por popularizar ideias contrárias a
Igreja Católica.
Hoje é difícil prever
as consequências do uso do computador e da internet. Dito isso, é importante
deixar claro que, quando falamos de criatividade, nem tudo gira em torno da
tecnologia. Há escolas que optaram por deixar o aluno escolher as atividades
que prefere fazer em um dos dias da semana. Não há nada de tecnológico nisso. É
sempre bom lembrar. O crucial é a qualidade do professor. É o comportamento
dele que faz a diferença.
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